Somente seis das 100 maiores cidades tratam mais de 80% do esgoto

Somente seis das 100 maiores cidades tratam mais de 80% do esgoto

Possível solução para resolver a questão do saneamento básico no país seria o uso do biodigestor, que retira até 85% de matéria orgânica do esgoto.

 sexta maior economia do mundo ainda não conseguiu resolver o mais básico dos problemas: o saneamento. Mais da metade dos domicílios no Brasil não tem sequer conectados a rede coletora.

Do que chega a ser coletado, menos da metade recebe algum tipo de tratamento. É muito pouco. Esse esgoto sem tratamento está por aí, poluindo o meio ambiente e espalhando doenças. Para piorar a situação, o custo estimado para resolver o problema do saneamento ultrapassa os R$ 150 bilhões e esse dinheiro não está garantido no orçamento.

Hoje, o Brasil privilegia a construção de grandes estações de tratamento e redes coletoras. Mas das cem maiores cidades, somente seis tratam mais de 80% do esgoto. As cidades com melhores serviços estão localizadas em quatro estados: São Paulo, cinco municípios, Minas Gerais, dois municípios, Paraná, dois municípios e Rio de Janeiro, um município. Os piores serviços estão em quatro cidades da região Norte e uma do Nordeste.

Mas será que essa é a única alternativa em um país onde 95% dos municípios são pequenos, com população até cem mil habitantes?

É aí que entra uma iniciativa sustentável que tem ganhado espaço: os biodigestores. A tecnologia conta com o apoio do Ministério das Cidades, mas não há levantamentos sobre quais e quantos municípios adotam esse tipo de solução.

A cidade imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro, reina absoluta como a capital brasileira dos biodigestores. Uma tecnologia simples e de baixo custo para tratar esgoto. Funciona assim: o esgoto é canalizado para um recipiente fechado, sem oxigênio. Todo o trabalho é feito pelas bactérias que se alimentam dos nutrientes da matéria orgânica. O resultado é metano, um gás combustível, que pode ser usado como gás de cozinha. De graça.

Além de não consumir energia elétrica nem produtos químicos, a grande vantagem do biodigestor é tratar do esgoto no local onde ele é gerado.

O biodigestor retira até 85% da matéria orgânica do esgoto. O que sai, depois do gás, é água residual numa condição muito melhor para retornar aos rios.

“O custo de implantação dessas unidades é cinco vezes menor que uma unidade convencional. Custa R% 60 por habitante é o custo de implantação de um biodigestor. São seis biodigestores se gastou R$ 360 mil. O equivalente desse mesmo montante seria R$ 1.8 milhão para a população de seis mil pessoas”, explica o supervisor da Companhia de Águas Imperador, Márcio Salles.

Estima-se que Petrópolis tenha aproximadamente 40 biodigestores pequenos e grandes beneficiando 12 mil pessoas. A cidade instalou os equipamentos em cinco comunidades de baixa renda. São 900 mil litros de esgoto tratados por dia.

Nova Ipanema fica na encosta de um morro. Nem parece que no local se trata o esgoto de 500 moradores. Explica como funciona a manutenção do sistema. “Através da parceria comunitária. A própria comunidade se tiver um problema mais sério, a supervisão vai ao local, orienta e é feita a limpeza periódica”, diz Márcio Salles.

A moradora Geralda Alves fala ter o gás de cozinha a partir do esgoto em casa. “A princípio fiquei meia assim, mas depois, olha não podia ter acontecido coisa melhor porque foi uma economia muito grande. O fogão ultimamente está aposentado”.

O custo de instalação de um biodigestor caseiro para uma família de quatro pessoas é de R$ 1,2 mil. Valmir Fachini, do Instituto Ambiental, virou especialista e foi convidado para instalar o sistema em outros países. Hoje passa a maior parte do tempo no Haiti. País devastado pelo terremoto, e que descobriu as vantagens de promover de uma só vez saneamento básico e energia. A organização Viva Rio, do Brasil, ajudou a construir 90 biodigestores no Haiti, e Valmir participou de todos os projetos.

“Antes do terremoto a gente tinha feito um planejamento para implantar dez biodigestores em três anos. Depois do terremoto, no primeiro ano, 2010, nós implantamos 40, devido a pressão que teve de fazer saneamento rápido e mais seguro, em 2011 outros 40, e em 2012 nós transferimos a tecnologia para os haitianos, que já têm 10 microempresas formadas reproduzindo biodigestores e eles já implantaram mais dez este ano”.

Quando o assunto é saneamento básico, o Haiti ainda é aqui. O biodogestor pode ajudar a mudar essa realidade.    Fonte: G1